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A filantropia pode ser um modelo sustentável para o Jornalismo?

  • Foto do escritor: Daiane  Dultra
    Daiane Dultra
  • 15 de ago.
  • 3 min de leitura
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Vivemos uma encruzilhada histórica. Em meio à avalanche de desinformação, à ascensão de regimes autoritários e à erosão da confiança pública nas instituições, o jornalismo independente permanece como um dos últimos pilares vivos da democracia e o seu papel crítico é incontestável. 


Mas quem sustenta esse pilar quando os modelos tradicionais de financiamento desmoronam?


Sem financiamento sustentável para alicerçar essas iniciativas, não há jornalismo independente forte. 


Hoje, já observamos uma mudança na forma como se dá esse financiamento:


  • Assinaturas

  • Membership

  • Crowdfunding pontual ou recorrente

  • Publicidade privada e patrocínio

  • Leis de incentivo fiscal

  • Fundos públicos

  • Consultorias e serviços

  • Investimento de impacto

  • Premiações e bolsas

  • Filantropia nacional e internacional


A filantropia tem viabilizado investigações de longo prazo, fortalecido redações locais e impulsionado a inovação em modelos de negócio. Mas essa mesma filantropia agora enfrenta um novo ciclo de retração, especialmente após a instabilidade econômica nos Estados Unidos, que vem impactando diretamente os fluxos de investimento global.


No entanto, o  cenário de financiamento global está se reorganizando, com novos protagonistas e novas prioridades, especialmente no fluxo de recursos do Sul Global.


Escapando das formas tradicionais, temos visto que alguns fundos e entidades estão se mobilizando para apoiar o jornalismo como um movimento estratégico. Afinal, como enfrentar as ameaças à democracia sem informação de qualidade, investigação das grandes corporações, combate à desinformação e ampliação das vozes dos territórios?


A instabilidade econômica dos EUA e de países europeus, somada ao realinhamento estratégico de grandes fundações, provocou uma desaceleração nos investimentos internacionais. Muitos fundos estão revisando suas prioridades, redirecionando recursos para contextos mais próximos geograficamente ou diminuindo o ritmo de expansão global.


Alguns exemplos de cooperação internacionais:


Estados Unidos: Organizações como a Knight Foundation, MacArthur Foundation e Ford Foundation têm investido em jornalismo local e investigativo.


Europa: Iniciativas como o European Journalism Centre (EJC) e a Public Media Alliance articulam modelos de financiamentos híbridos.


Fora do eixo Norte, projetos como o International Fund for Public Interest Media (IFPIM) e o Global Investigative Journalism Network têm direcionado atenção e recursos ao jornalismo no Sul Global, reconhecendo que os desafios enfrentados por veículos na África, América Latina e Ásia são desproporcionais e exigem estratégias específicas de apoio.


E os recursos nacionais?


No Brasil, temos a recente chegada, mas cheia de expectativas, do Fundo de Apoio ao Jornalismo, uma iniciativa pioneira no Sul-Global.


A filantropia nacional cresceu nos últimos anos e vem ganhando mais relevância. 


Sua presença no jornalismo ainda é baixa, mas esse é um debate fundamental para os próximos anos. Visualizar outras possibilidades também é urgente: uma levantada durante a palestra foi sobre a criação de um fundo público de apoio ao jornalismo, que pode oxigenar bastante esse debate dentro do setor.


Essa foi uma das discussões durante a minha palestra no 20º Congresso de Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, que aconteceu este mês em São Paulo.


Somado a isso, enfrentamos algumas barreiras desafiadoras para captar recursos…


  • Dúvidas quanto aos modelos de negócios;

  • Riscos de censura e perseguição política;

  • Falta de infraestrutura e apoio institucional.


… para as quais devemos olhar como oportunidades:


_Crescimento de veículos independentes e comunitários;

_Jovens ativistas ganhando espaço e trazendo mais diversidade; 

_Engajamento crescente de jovens audiências;

_Capacidade de inovação digital e de narrativas locais autênticas.


Apesar dos desafios, o campo jornalístico no Brasil tem mostrado resiliência e inovação. Iniciativas como a Agência Pública, Instituto AzMina, Cajuína, Énois Laboratório de Comunicação, Marco Zero Conteúdo, O Joio e o Trigo, dentre outras, têm construído modelos híbridos de financiamento, mesclando assinaturas, parcerias institucionais e doações individuais. Na América Latina, exemplos como o El Surtidor (Paraguai), Ojo Público (Peru) e La Vida de Nos (Venezuela) demonstram a potência da colaboração e da potência criativa local.


Esse movimento precisa ser fortalecido e sistematizado para que ele prospere e ganhe escalabilidade. Um projeto de jornalismo de dados ou uma iniciativa de alfabetização midiática estará, na verdade, defendendo o direito à informação, a transparência e a justiça social.


O futuro do jornalismo depende de nossa capacidade de construir pontes entre propósito e sustentabilidade, entre diálogos multissetoriais e bases bem construídas de financiamento. 


E a filantropia pode ser um dos caminhos mais prósperos para escrever essa história.




Um abraço,


Daiane Dultra, Fundadora e Diretora Executiva da Painá Catalisadora de Impacto


 
 
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