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O impacto do retrocesso democrático nos EUA sobre a filantropia global

  • Foto do escritor: Daiane  Dultra
    Daiane Dultra
  • 23 de jul.
  • 3 min de leitura
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Como não falar do impacto que a guinada política dos Estados Unidos tem provocado na filantropia, não apenas dentro do país, mas em diversas regiões do mundo?


Nos últimos anos, temos acompanhado com atenção, e muitas vezes com preocupação, como a instabilidade política norte-americana tem repercutido no ecossistema global da filantropia. Em especial, os efeitos da era Trump e seus cortes em políticas públicas e programas democráticos continuam afetando diretamente o campo do financiamento.


Movido por essa inquietação, o Democracy Fund, uma das instituições mais respeitadas na defesa da democracia, conduziu, entre o final do ano passado e o início deste ano, um estudo com 227 atores do ecossistema filantrópico, revelando percepções, prioridades e desafios diante das transformações em curso. 


Instituições comprometidas com o fortalecimento do Estado democrático de direito e com o enfrentamento a políticas extremistas estão sentindo os impactos dessa desmobilização. Os cortes abruptos de recursos colocam muitas organizações em situação crítica.


Os resultados não são exatamente animadores. Mas acredito que, em tempos difíceis, precisamos cultivar otimismo estratégico. É ele que nos move a redirecionar esforços, rever caminhos e buscar novas formas de redistribuir recursos com inteligência e propósito.


A seguir, compartilho alguns achados que considero fundamentais.


Segundo o levantamento, os financiadores estão profundamente preocupados com o futuro da democracia e com a escalada da polarização. Muitos apontam que os avanços democráticos estão em risco não apenas pelas decisões de governos, mas também pela desinformação, pela fragilidade das instituições e pela instabilidade financeira das organizações de base.


Como resposta, parte significativa dos financiadores têm buscado alternativas. Ganha força o financiamento mais flexível (escrevi um post sobre isso recentemente), o apoio ao fortalecimento institucional em vez de projetos pontuais e o estímulo a parcerias colaborativas, que permitem agir com mais rapidez.


Mas e o Sul Global? O que isso tem a ver com a gente? Tudo.


Grande parte das organizações que atuam pela democracia, justiça social e direitos humanos na América Latina, África e Ásia depende de recursos vindos do Norte, especialmente dos Estados Unidos. Qualquer retração ou mudança de foco, como a priorização de agendas domésticas, tem efeitos diretos e muitas vezes imediatos sobre a sustentabilidade dessas organizações.


Estamos vendo isso acontecer agora.


  • Menor previsibilidade de recursos.

  • Mudança nas prioridades temáticas e geográficas.

  • Reforço das desigualdades no ecossistema filantrópico global.


O desafio está posto. Como manter autonomia e relevância diante de novas agendas dos financiadores? O momento exige inovação, coragem e reinvenção nos modelos de financiamento.

  • Apoio irrestrito em vez de projetos restritos.

  • Confiança nas lideranças locais.

  • Investimento em estruturas organizacionais.

  • Abordagens participativas e descentralizadas.


A instabilidade política nos EUA traz incertezas, mas também abre espaço para transformação. A filantropia tem a chance de se reinventar. E este estudo funciona como um termômetro importante para entender o cenário. Mesmo em meio ao pessimismo, há disposição para agir. 


E quais caminhos parecem mais promissores?


Precisamos apostar em modelos de financiamento mais sustentáveis, inclusivos e sensíveis às realidades locais. Apoio baseado na confiança, fortalecimento de redes comunitárias e alianças entre filantropia, negócios de impacto, setor privado e poder público são fundamentais.


Repensar é urgente.


E continuar falando sobre isso também. O clima de insegurança já impacta o funcionamento de organizações da sociedade civil. Se havia um planejamento estratégico bem encaminhado, 2025 nos pede uma reorientação urgente, especialmente na frente de captação de recursos. Estudar os países em que a cooperação ainda está forte, focar em fundações privadas que tem mantido o aporte de recursos e aprimorar as movimentações táticas de prospecção.


Mais do que nunca, é hora de confiar. Confiança como base de uma nova relação entre financiadores e organizações. Confiança como estratégia para fortalecer instituições democráticas.


A democracia é um projeto coletivo. E o seu financiamento também precisa ser.


Um abraço, 


Daiane Dultra, da Painá Catalisadora de Impacto 

 
 
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