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Sem democracia não há justiça climática

  • Foto do escritor: Daiane  Dultra
    Daiane Dultra
  • 23 de jul.
  • 4 min de leitura
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A posse do novo presidente americano Donald Trump é uma ameaça à democracia e à agenda de direitos. É um mandato que promete comprometer especialmente a agenda climática global, com um dos movimentos mais simbólicos sendo a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Isso já era de se esperar, mas vendo na prática a decisão sendo tomada e o incentivo à extração até a última gota de petróleo, me fazem refletir sobre o que realmente estamos enfrentando aqui. 


Este ato representou não apenas um golpe para os esforços colaborativos internacionais no enfrentamento às mudanças climáticas, mas também uma ameaça à sustentabilidade financeira das organizações da sociedade civil que têm reunido estratégias para lidar com os bloqueios e cortes anunciados e já em curso. 


Em um mundo pressionado por crises ambientais, territoriais e sociais, o recuo de uma das maiores economias do planeta nas políticas climáticas agrava nossos desafios. Junto com esse novo posicionamento dos EUA veio também a informação de que 2024 foi o ano mais quente da história, com aumento de 1,5°C na temperatura média do planeta em relação a níveis pré-industriais (Copernicus Global Climate Report), o que tornará muitas cidades inabitáveis em algumas poucas décadas. Só em Pernambuco, dos 184 municípios, mais de 130 já estão no radar destas estatísticas por conta da possibilidade de estarem desertificados daqui há alguns anos. Dados não faltam para mostrar que nós estamos indo na contramão do que se esperava. 


Isso é especialmente alarmante porque, enquanto governos podem ser voláteis, os possíveis estragos ao longo dos próximos 4 anos serão irreparáveis. E o que


vamos fazer para lidar com tudo isso?


O papel da filantropia frente aos retrocessos


É neste cenário de incertezas que a filantropia precisa se fortalecer ainda mais. 

Organizações filantrópicas e detentores de grandes fortunas têm um papel essencial em financiar iniciativas que buscam soluções climáticas, bem-estar social e também influenciar mudanças comportamentais em todos os níveis. 


Além disso, a resiliência financeira das organizações é um grande passo dentro deste cenário e direcionar recursos para seus programas e projetos é crucial para que não haja retrocessos ainda mais severos. A Bloomberg, por exemplo, anunciou que a fundação financiará o órgão de mudanças climáticas da ONU depois que o presidente Donald Trump se retirou do Acordo de Paris. Vimos também que a Cáritas e o UNAIDS tiveram que parar abruptamente com suas atuações e projetos aqui no Brasil, por conta de um decreto que duraria 90 dias sobre a necessidade de alinhamentos com as novas políticas externas do governo americano.


Mais do que nunca, precisamos de lideranças que inspirem a adoção de práticas mais sustentáveis e que mantenham a pauta climática viva, mesmo em contextos adversos, pois os eventos extremos que estamos enfrentando com uma frequência cada vez maior não vão parar de acontecer, infelizmente.


Precisamos unir forças para trazer conforto e segurança para as pessoas.


Alguns caminhos que podemos seguir :


  1. Investir em pesquisa e inovação: tecnologias limpas e soluções para redução de gases de efeito estufa na atmosfera precisam de suporte para avançar.

  2. Apoiar movimentos sociais, organizações da sociedade civil e comunidades locais: A justiça climática só será alcançada quando as comunidades mais impactadas tiverem voz ativa e recursos.

  3. Promover educação e conscientização: é crucial que todos entendam a urgência do problema e se sintam parte de uma solução coletiva.

  4. Aumentar o financiamento climático: O Sul Global precisa marcar seu território no mapa de financiamentos para seguir avançando em termos de recursos e o norte do mundo precisa atuar em colaboração nesta direção.

  5. Investir tempo no pensamento crítico e estratégico para promover a resiliência financeira e institucional das organizações de impacto. Elas possuem muito valor e sabedoria, além de promoverem a confluência de recursos e ação.


ESG: Uma bandeira que vai perdendo força


Para além das medidas que já mencionamos aqui, o possível enfraquecimento da parceria entre a filantropia e o setor privado, vai impactar a continuidade de boas práticas e ações de resistência.


A adoção de princípios ESG no mundo corporativo é uma das principais forças motrizes para alcançar um futuro mais justo e habitável. As empresas têm a responsabilidade e a capacidade de liderar pelo exemplo, implementando práticas que reduzam emissões de carbono, promovam a igualdade social e assegurem uma governança ética. No entanto, o atual presidente americano já baniu algumas práticas relacionadas à Diversidade, Equidade e Inclusão e não somente, invocou o setor privado a fazer o mesmo.


É de se esperar que parte do mundo corporativo abandone suas práticas relacionadas ao tema, e assim, veremos menos projetos de DE&I sendo implementados. Um retrocesso imenso aos direitos humanos e à sustentabilidade ambiental. 


Não há justiça climática sem democracia!


A crise climática afeta de maneira desigual diferentes grupos sociais, atingindo com mais severidade comunidades vulneráveis. Sem um sistema democrático que garanta voz a essas populações, as decisões sobre o meio ambiente tendem a favorecer interesses econômicos de curto prazo, em detrimento do bem-estar coletivo.


A democracia permite que a sociedade pressione governos e empresas para adotarem práticas responsáveis e transparentes. O direito à informação e à participação nos processos decisórios é um pilar fundamental para uma transição ecológica justa. Quando regimes autoritários restringem recursos e direitos, dificultam o acesso à soluções climáticas. Políticas públicas eficazes só podem ser construídas quando há um debate aberto e plural, onde diferentes perspectivas são consideradas.


Lutar por justiça climática é mais do que responsabilidade ambiental, é uma questão de garantir que as próximas gerações tenham um lugar habitável para viver. Apesar dos retrocessos, o momento exige resiliência e colaboração.


O desafio é grande, mas a capacidade humana de se unir em torno de causas maiores também é extraordinária. Vamos transformar este momento de crise em um chamado à ação e reafirmar o compromisso que temos com o nosso planeta.


Por aqui, sigo com toda energia de plantar, cuidar, semear e colher.

Essa é a força da Painá!


Um abraço,

 
 
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